quarta-feira, 19 de outubro de 2011

O Hospital - Primeira parte



Olá caros fregueses, trago á vocês esta noite uma história de se apreciar aos poucos, sentindo cada medo descendo pela garganta, doce e delirante. Nesta primeira parte começarão a conhecer a história de uma garota que irá descobrir que há lugares onde a insanidade humana pode nos atingir de surpresa... apreciem a entrada.

O dia estava nublado e o vento soprava por todo o terreno atrás do hospital. Dava para ver bem de onde Anita estava. Os jornais velhos sendo levados e despedaçados, algumas das folhas desgarradas se desmanchavam nas pequenas poças d’água, o faxineiro que lutava para poder arremessar o lixo na lixeira. Um dia comum, parado, como todos os que ela estava passando deitada naquele leito hospitalar.

“É uma simples operação das amígdalas.”, seus pais falaram. “Não se preocupe jovenzinha, são apenas alguns dias.”, falou o médico. Para eles era algo fácil de falar, mas esses poucos dias para Anita estavam sendo os piores da vida dela até aquele momento. Como as suas amígdalas puderam fazer isso com ela? Inflamaram justo na semana em que os Dead Roses fariam um show no Brasil. A banda de rock do momento, os cinco caras pelos quais as adolescentes de quinze anos como ela se espancariam para poder tocar a mão neles. Agora ela estava ali, muda, abandonada em frente aquela janela.

Anita estava chateada, não, mais do que isso, revoltada com tudo e com todos, até aquela velha babona deitada no leito ao lado a irritava. Uma pobre velha que mal se movia aguardando uma cirurgia na bacia.

Um som oco começou a percorrer o ambiente, o som de pequenas gotas de chuva que começaram a se precipitar sobre a janela. Anita olhou e, pasme, até começou a contar cada uma das gotas que caíam. Desistindo, porém, na décima que se espatifou no vidro. E ficou ali hipnotizada com a chuva que rapidamente passou de um chuvisco para um aguaceiro impressionante. Coitado do faxineiro, ainda estava em frente à lixeira naquele momento.

 Foi o único momento em que Anita esboçou um leve sorriso, achando hilária a maneira como o pobre homem deixou a lata cair no chão e passou a correr desesperadamente.

Mas seu breve divertimento foi interrompido por duas enfermeiras que entraram no quarto, empurrando um leito onde estava deitada uma garota desacordada com o rosto pálido, cabelos loiros e curtos que estavam muito despenteados. E o que mais impressionou Anita, os pulsos da garota estavam amarrados á cabeceira da cama. “Esta está dando trabalho.” Comentou rapidamente uma das enfermeiras em voz alta antes de deixarem a sala e novamente apenas o som da chuva tomar o ambiente.

Anita olhou para os lados, observando se não havia alguém acordado, após constatar que não ela passou a observar a garota que trouxeram. A nova hóspede do hospital despertou uma curiosidade nela, pois fora Anita a “loira adormecida” era a única jovem do quarto em que estavam.

E após um minuto de observação ela resolveu ir até a garota. Novamente olhou procurando alguém que estivesse acordado, novamente ninguém o estava. Anita lentamente removeu o cobertor de cima do seu corpo, a chuva ainda caía torrencialmente. E na mesma velocidade em que retirou o cobertor ela começou a descer da cama, ao encostar a ponta do dedão no chão frio e liso um pandemônio urrou pelo local, um trovão que fez até a cama dela tremer. Porém Anita não se importou, estava hipnotizada pela nova paciente e desceu por completo da cama. E a chuva se cessou, deixou de se precipitar em ruídos na janela, como um ator que abandona o palco por causa do desinteresse de seu público.

E foi caminhando bem lentamente até o leito da desacordada, bem... lentamente, um passo... de cada vez.
Após alcançar seu objetivo Anita começou a passar as mãos pelo pulso amarrado da paciente, estranhava, se perguntava o porquê daquilo. E observou o rosto pálido e os olhos fechados que ostentavam marcas de lágrimas. Anita aproximou seu rosto ao da garota para observar melhor aquele semblante. De repente sem que ela percebe-se os dedos das mãos da garota começaram a se mover, e os olhos dela abriram tão rapidamente que assustou Anita, fazendo-a cair de costas no chão.

Ainda atordoada pela queda ela olhou para o leito acima dela, onde a garota loira a observava com um olhar de desespero e falando num tom baixo, quase inaudível:

– Me tira... daqui. Por... favor. Eles são loucos...



Aguardem caros fregueses, estou indo buscar o resto do prato...

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