segunda-feira, 21 de março de 2011

Um Alô para o Demônio















Olá fregueses, esta noite temos para vocês um horripilante conto que é uma livre adaptação de uma famosa lenda européia... Espero que saboreiem deliciosamente este prato banhado a medo e lágrimas.


Um alô para o demônio

Arthur e Henrique eram irmãos gêmeos. Moravam com seu pai há quase um ano, ele havia ficado com a guarda no tribunal. Conhecidos por possuirem personalidades muito diferentes um do outro.

Arthur era obediente, inteligente e gentil. Henrique era birrento, nervoso e malcriado. Sempre aprontava e envolvia seu irmão em suas traquinagens. Pobre do pai deles que se matava de trabalhar e mal tinha tempo para tentar repreender o filho. As pessoas o culpavam pela atitude do garoto, “Pai ausente...” era o que sempre lhe falavam.

Certo dia o pai dos garotos chegou a casa e foi ter com seus filhos na sala. Encontrou apenas Arthur deitado em cima do tapete em frente a pequena lareira. Retirou seu grosso casaco e colocou em cima da mesa que havia ali. Procurou com o olhar por Henrique e não o encontrou. Onde estaria seu problemático filho? Ele se perguntou.

 Puxou uma das cadeiras da mesa e colocou-a próxima ao filho adormecido. Sentou-se na mesma. Ficou olhando para Arthur e deu um leve sorriso.

– Meu filho... meu filho mais gentil e obediente. Por que seu irmão não é como você? Seria uma dor de cabeça a menos das muitas que passo nesses dias conturbados.

Então o homem passou a afanar levemente a cabeça de seu filho. Ele não percebeu, mas não estavam completamente sozinhos naquele lugar. Atrás da parede da cozinha – com um copo de água na mão – Henrique ouvia tudo. A decepção do pai para com ele. O carinho que nunca recebeu. Seus olhos se encheram de lágrimas, em abundância, as lágrimas pingavam dentro do copo com água. Lágrimas que não eram de tristeza e sim de ódio. Passara a odiar o pai e o irmão, queria que os dois morressem que os dois fossem para o inferno.

Pegou o copo de água misturada em lágrimas e bebeu, como se com o gesto tomasse do ódio que sentia para espalhá-lo pelo resto do corpo, para fazer esse ódio correr por suas veias. Esperou até que seu pai dormisse ali na cadeira mesmo, e foi até seu quarto. Queria que fosse lá que o encontrassem, como se estivesse dormindo o tempo todo, como se ele não tivesse ouvido as lamúrias de seu pai.

A partir desse dia disse que encontraria um meio de acabar com o que restara de sua família. E seria algum modo demorado e sofrido.

Seu irmão com o passar do tempo foi percebendo seu afastamento, seus olhares de ódio. Arthur não entendia o que acontecia a Henrique. Sempre que tentava dialogar com ele e tentar descobrir, era ignorado. 

Não sabia que Henrique não mais o amava, não mais o queria como irmão.

Passaram-se dois anos desde aquele dia, desde a conversa ouvida escondido atrás de uma parede. Arthur havia deixado de fazer suas traquinagens desde aquela época. Não mais insultava os vizinhos, as meninas de sua cidade ou os idosos. Aliás, mal saia de sua casa. De seu quarto. Seu pai chamou alguns médicos e psicólogos para ver seu filho, tentar descobrir o que ele tinha. Os médicos diziam que ele estava bem, na parte física. Os psicólogos disseram que ele sofria de algum complexo ou trauma e que era preciso ir aos consultórios para poder descobrir a causa. Pois o tratamento não podia ser feito dentro de sua própria casa. Mas também era preciso ele querer ir, nada adiantaria levá-lo a força.

Chegou um dia em que Henrique simplesmente saiu de sua casa dizendo que visitaria sua mãe. O pai dos gêmeos não retrucou ou impediu, já que ficou até feliz dele querer finalmente fazer alguma coisa, sair de casa.
Passaram-se cinco dias e Henrique não retornou. Seu pai foi até a ex para tentar saber dele. Ela negou que Henrique fora visitá-la. A polícia foi chamada, reportagem de televisão. O pai dele ficou desesperado com o desaparecimento. Foi um ano sem noticias, sem rever o filho.

Arthur sempre fazia suas buscas por seu irmão até que conseguiu chegar numa pista. O último lugar que disseram ter visto Henrique se aproximar: a casa da velha Adelaide.

Adelaide era conhecida na cidade. Temida pelos boatos. Diziam que ela era envolvida com magia negra, espíritos do mal, etc. Mas disseram para Arthur que Henrique havia ida até sua casa, ele não poderia desistir. Não poderia deixar que boatos o fizessem deixar de lado a única pista que encontrara de seu irmão após tanto tempo.

Era duas da tarde quando ele bateu na porta da casa de Adelaide. A casa ficava no centro de uma pequena mata. Para chegar ali era preciso atravessar uma pequena ponte que levava até a única estrada do local. Mesmo de dia a paisagem era assustadora. O hambiente era frio e os ruídos das matas incessantes.

 – Entre, estava te esperando jovem Arthur. – disse a voz rouca da velha Adelaide.
Arthur ficou impressionado.

– Como sabe quem sou? – perguntou ele abrindo a porta e vendo a anciã sentada numa enorme almofada cercada de pequenas mesas.

 – Não sabia quem era você rapaz, apenas falo o que ouço sussurarem em meu ouvido.

 – Então já deve saber do por que eu vim até aqui?

 – Não... As vozes apenas me dizem que devo mandá-lo embora o quanto antes. Vá, esqueça sua busca... Pelo seu bem.

 – Por favor. Não me mande embora sem antes me dizer se viu meu irmão gêmeo aqui, alguns meses atrás.

A velha Adelaide se levantou da almofada afoita e desesperada. Correu até Arthur e o expulsou de sua casa. Do lado de fora Arthur ficou sem entender a atitude da mulher, ela apenas ficava olhando para os lados num pavoroso estado de demência. Achando que de nada adiantaria ficar ali resolveu ir embora.

 – Espere! – gritou a mulher quando Arthur virou as costas para ela – Está anoitecendo, estão me dizendo para que você não olhe para trás até atravessar a ponte... Ao iniciar seu caminho não pare ou olhe para o que está atrás de você, independentemente do que acredite ser...

Após ouvir as palavras da velha Adelaide ele seguiu seu caminho de volta. Realmente estava começando a anoitecer. Arthur apertou o seu passar para terminar por aquele trageto o mais rápido possível. Quando ouviu uma voz.

 – Me ajude! Aqui atrás, preciso de você!

Pensou em olhar, mas lembrou-se das palavras, do pedido. “Não olhe para trás” se repetia para si mesmo. Mas as vozes continuavam a chamá-lo, “me ajude”, “olhe para mim”, cada vez mais suplicantes. Arthur ficou firme em seu passar, sem olhar para trás. Porém não podia esperar pelo que veio acontecer.

 – Irmão, me ajude. Estou aqui, preciso de você. – disse a voz em suas costas... A voz de seu irmão desaparecido.

– Henrique é você? Não pode ser. – disse Arthur parando de caminhar e escorrendo uma lágrima pelo canto dos olhos.

Queria virar, constatar se realmente era seu irmão pedindo por socorro. Mas ateve á convicção se de que ele virasse seria o maior erro já cometido em sua vida. Então num gesto que lhe partiu o coração correu e abandonou a voz de seu irmão pedindo por socorro.

Já passado a ponte sabia que estava  seguro e resolveu olhar para trás, ver se conseguiria enxergar seu irmão, ou algoque lhe explicasse as vozes que ouvia. Sua  face paralizou devido ao choque que sofreu. Olhando para ele estava um pequeno demônio marrom, comenormes chifres brancos, babava uma espécie de gosma verde pegasosa. A criatura olhava para ele e fungava.

 – Sorte sua não ter olhado para trás... Se não agora sua alma já seria minha. – disse o demônio se virando e indo embora.

Arthur pôde ver que a criatura arrastava vários corpos de pessoas. Num desses corpos ele viu claramente a face de seu irmão desaparecido...



Então? Sentiram aquele frio assombroso percorrendo sua espinha? Pensem bem antes de atender um chamado vindo de suas costas. Pode ser um demônio afim de devorar suas almas. Até o próximo prato meu caro cliente.

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